Nosce te Ipsum

"Um quadro só vive para quem o olha" - Pablo Picasso

(Nosce te Ipsum)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"A Liberdade é a Ilusão dos Ignorantes"




Obra: A Liberdade Guiando o Povo. Autor: Eugène Delacroix. Ano: 1830. Técnica: Óleo sobre tela.



"A Liberdade é a Ilusão dos Ignorantes"

Desceram-me, ou subiram-me,
os Deuses; e eu disse: Não Quero!
então, não houve clero.
Não houve.
Não houve.
Não ouça!
Não quero saber! - Não posso saber [Eles Sabiam]
Entristeceram-se-me. Invejaram-se-me.
E por não saber, permaneci livre.

- Marcos Paulo Souza Caetano
12 de Junho de 2013, 11h05min.
Fortaleza-CE



Indicação a respeito d'A Liberdade Guiando o Povo.

Palavra da Vez:

liberdade 
(latim libertas, -atis
s. f.
1. Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem.
2. Condição do homem ou da nação que goza de liberdade.
3. Conjunto das ideias liberais ou dos direitos garantidos ao cidadão.
4. [Figurado]  Ousadia.
5. Franqueza.
6. Licença.
7. Desassombro.
8. Demasiada familiaridade.

liberdades
s. f. pl.
9. Imunidades, regalias.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Direito Abstrato em George W. F. Hegel, segundo Thadeu Weber.


Johann Georg Schlesinger - Retrato de Hegel
Óleo sobre tela


O Direito Abstrato em George W. F. Hegel, segundo Thadeu Weber.



O Direito Abstrato é um conceito abordado na obra “Os Princípios da Filosofia do Direito” (1821) de Georg W. F. Hegel (1770-1831), que será analisado por meio desta na ótica de Thadeu Weber (UFRGS), em sua tese de doutorado: “Hegel: Liberdade, Estado e História”. Passaremos por alguns momentos para a configuração total da idéia, entre eles: posse, propriedade, contrato e injustiça.
Começaremos pela identificação do indivíduo, do sujeito, sendo formado pelo processo de coisificação. Onde o Indivíduo é o sujeito de vontade, já a coisa não; portanto, a coisificação de algo no mundo demonstra a aparição do sujeito, que, ao mesmo tempo, atesta a coisa, “coisificando-a”. Poderíamos perceber isso em três instâncias, são elas o anúncio, a consciência e a efetivação, segundo Ramiro Flórez, como indica T. Weber. Essas três instâncias formularão a base desse direito abstrato; sendo o anúncio o dizer da liberdade, a consciência o indivíduo perceber-se livre e a efetivação a exteriorização da liberdade do indivíduo. Então, podemos nos perguntar: como se passa essa exteriorização, isto é, essa efetivação da liberdade em Hegel? Na Posse. Assim, entraremos no primeiro momento do Direito Abstrato.
A posse de algo, isto é, da coisa pelo sujeito de vontade livre é a externalização dele no mundo, o primeiro contato de fato da liberdade. Não só a posse, a apropriação, mas o uso da coisa pelo indivíduo. Contudo, a posse ainda não se traduz como propriedade, para se passar desse primeiro momento para o segundo, a propriedade, precisamos do reconhecimento. Isto é, é o reconhecimento da posse e do uso de um indivíduo por outro que faz com que a simples posse se torne propriedade. E assim, o reconhecimento faz com que a vontade livre de um indivíduo seja reconhecida por outro, efetivando, de fato, a liberdade no mundo.
Podemos observar, também, outra característica da propriedade, que a difere da posse, enquanto a posse é provisória, a propriedade é permanente. Pois enquanto posse ela pode ser tomada pelo outro, contudo, enquanto propriedade ela é reconhecida pelo outro, ampliando o seu estatuto. Porém, a “a propriedade plena inclui uso e troca” (T. Weber), e a troca, isto é, segundo Hegel, a capacidade de alienação da coisa, é um novo reforço das liberdades. Entendendo essa alienação, essa troca, como a impossibilidade de ser proprietário de algo que é posse do outro. Logo, observamos, como Thadeu, que “a propriedade comum colocaria em risco as liberdades individuais” e que “a propriedade é necessariamente desigual”.
Um último ponto sobre o uso e a troca é a contradição entre eles, isto é, “quando uso não posso trocar, quando troco não posso usar”, tornando-se o movimento dialético, como em toda a obra hegeliana.
No momento em que estamos na análise, percebemos uma nova exigência ao Direito Abstrato, que é o próximo momento, aquilo que é exigido quando se pauta a troca, aquilo que possibilita, que é o contrato. Uma exigência para a relação entre vontades.
O Contrato tem por característica o reconhecimento entre as vontades, não importando a qualidade da coisa, mas a relação entre as duas vontades livres. O importante é o consentimento, o reconhecimento e a aceitação das duas vontades livres. “As regras do jogo dizem respeito às relações entre pessoas, independentemente da qualidade da coisa” (T. Weber). Sendo assim, esse reconhecimento entre as liberdades abre caminho para a dimensão social dos sujeitos, onde o Estado se mostrará como regulador último do contrato. Aparece-nos outro ponto da efetivação do indivíduo no mundo, o Estado. “(...) o indivíduo só se realiza no Estado (...)”.
É evidente que esse processo de concretização da liberdade é acompanhado pelo processo de abstração da base material, isto é, a qualidade da coisa, da coisa de fato. A indenização em dinheiro, como exemplifica T. Weber, é a prova da abstração da coisa em favor da vontade. “O valor da coisa não entra em jogo porque é determinação econômica e não jurídica”.
Formalizado no Direito Abstrato o indivíduo livre na posse, na propriedade e no contrato, abre-se a porta para um terceiro momento que é uma problemática desse direito abstrato, é ela a Injustiça. Esse será o próximo momento.
“Pelo direito abstrato, não é possível impedir a possibilidade de alguém impor a sua vontade sobre o outro, reprimindo-a.”, já que o contrato é subordinado ao reconhecimento entre vontades livres e abstraído de bases materiais, “Daí a injustiça.”. Somente as vontades livres podem fazer justiça ou injustiça, “tal como o direito, a injustiça decorre de vontades livres. As coisas não são justas ou injustas, mas só de vontades livres podem surgir atos injustos.”. Pois, as vontades, mesmo em contrato, ainda reservam sua liberdade, ao ponto de, por exemplo, quebrar o contrato. Além disso, a vontade particular ainda pode, inúmeras vezes, ser contrária a vontade geral (direito abstrato), causando danos e injustiça. Destarte, observaremos os três modos de injustiça segundo o direito abstrato: a Injustiça de boa fé, a Fraude, a Violência e Delito.
Na injustiça de boa fé a vontade alheia é lesada de modo involuntário. Muitas vezes por não saber das conseqüências. Geralmente pela confusão onde “a pessoa toma como direito o que ela quer”.
Na fraude temos uma injustiça de grau mais intenso que na de boa fé. É esta com intenção de lesar, com intuito de fechar o contrato. “O direito é para o fraudulento uma aparência. Uma forma indireta de lesar a vontade de outrem.”. T. Weber nos exemplifica com o vendedor que esconde certa informação, a fim de fechar o contrato, lesando a vontade do comprador, pois não terá toda a informação da coisa comprada. Atentemos para o detalhe que a fraude se configura, portanto, em lesar o direito universal – haja vista no exemplo que o vendedor que deveria passar todas as informações da coisa para a avaliação do comprador – e não a vontade particular.
Por fim, temos a Violência e o Delito. É a forma mais intensa, é o querer ser injusto. É onde não há reconhecimento do direito do outro (aqui a propriedade voltaria a ser posse), pois há intenção de ferir a vontade alheia – liberdade de um sujeito. Disso vem à tona o castigo. “A penalidade representa uma tentativa de anular, objetivamente, um mal também objetivamente causado, ou, senão, pelo menos de restabelecer a ordem jurídica constituída.”. O castigo não como vingança, mas como justiça, de forma a trazer de volta a racionalidade do delituoso. Contudo, a pena, por quem sofre, sempre é vista como vingança. A lei, por sua vez, pode, por si mesma, ser injusta – o abuso do poder pode provocar novas injustiças (T. Weber).
Essas contingências (vontades particulares), para Hegel, percebemos, devem sempre ser superadas em prol de uma universalização. É pertinente, outrossim, observar que o direito abstrato está superado e guardado na moralidade, e por ser momento insuficiente será (terá de ser) seguido por outro. Sendo assim, a vontade livre particular teria de encontrar em si o universal: “Isso significa o reconhecimento subjetivo da igualdade e da liberdade como princípios universais”.

Escrito por: Marcos Paulo Souza Caetano. (16 de Janeiro de 2013)
Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFCe.
Orientado por: Prof. Dr. Eduardo F. Chagas.


Links: Os Princípios da Filosofia do Direito - G. W. F. Hegel (em Inglês)


Palavra da Vez:
direito 
(latim directus, -a, -um, em linha reta
adj.
1. Que corresponde à distância mais curta entre dois pontos. = RETO
2. Sem curvas nem irregularidades. ≠ SINUOSO, TORTO
3. Que fica à direita.
4. Que está de pé. = APRUMADO
5. [Figurado]  Justo, reto; acertado.
6. Que está bem, que está como é devido.
adv.
7. Em linha reta.
8. De forma direta; sem desvios.
9. De maneira considerada correta.
s. m.
10. O que pode ser exigido em conformidade com as leis ou a justiça.
11. Faculdade, prerrogativa, poder legítimo.
12. Complexo de leis sociais.
13. Lado principal. ≠ AVESSO

direitos
s. m. pl.
14. Imposto, taxa (ex.: pagar direitos).
direito canônicoconjunto de leis que regula a disciplina eclesiástica.
direito autoralo mesmo que direitos autorais.
direito comumconjunto de princípios e normas que se aplica à generalidade dos casos em sociedade, em coletividade.
direito das genteso mesmo que direito internacional público.
direito de autoro mesmo que direitos de autor.
direito de propriedadedireito que o homem tem de conservar o que lhe pertence e de apropriar-se daquilo que outrem lhe cede legalmente ou que adquire sem contestação.
direito internacional privadoconjunto de princípios e normas que regula os conflitos emergentes de relações jurídicas privadas internacionais.
direito internacional públicoconjunto de princípios e normas que regula as relações entre diferentes estados soberanos.
direito naturalconjunto de princípios e normas considerados primordiais e baseados na natureza humana, considerados anteriores à teoria jurídica. = JUSNATURALISMO
direitos autoraispara um autor ou seu editor, direito exclusivo de explorar durante muitos anos uma obra literária, artística ou científica.
direitos de autorpara um autor ou seu editor, direito exclusivo de explorar durante muitos anos uma obra literária, artística ou científica.
montante que um autor recebe pela comercialização da sua obra.
direitos de cidadeo mesmo que foros de cidade.
direitos políticosaqueles com que o cidadão intervém nos negócios públicos.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Ditadura em The God who wasn't there, e nem aqui.



A Ditadura em The God who wasn’t there, e nem aqui.



O documentário feito por Brian Flemming, de 2005, propõe-nos outra visão sobre o fato do cristianismo, diferentemente do sorriso cristão. O Deus que não estava lá nos leva a questionar dogmas que não se costuma questionar, revisar a moralidade que em nós é perpetuada pela religião e, o ponto mais sutil e culminante, como na fala de Sam Harris, as implicações materiais do cristianismo no governo de uma sociedade – este último o qual me deterei, haja vista que os outros pontos são de demonstrar o caráter mitológico do cristianismo, e este o político.

Seria possível um governo laico sem uma sociedade laica? Os cristãos logo elegem governantes cristãos, e estes por serem moldados pela moral de fé cristã perpetuará nas leis e nas decisões políticas o cristianismo. A educação baseada em incutir nos jovens ‘a pressão cristã’, a formação da mente, a ‘inquestionabilidade’ de tal ditadura celestial, enquanto o resto se pode questionar (isso como pretensão). Mesmo a religião sendo tratada como algo particular; como esse particular não se projetar para a esfera pública, como o cristianismo? Algo como a religião, que rege fortemente o espírito do indivíduo e determina suas ações, assim como toda ‘ideologia’, contudo, a religião como uma ‘ideologia’ com privilégios e imunidades de fé, isso não é tão simples como um gosto musical para o âmbito particular. Não é a nossa cultura que formula o nosso governo? Não somos nós que formulamos o nosso governo? Por mais que o Estado queira se distanciar da sociedade civil, as instituições da sociedade civil implicam nesse Estado, mesmo num sistema como o nosso – de ilusão de distanciamento. Seria possível para o homem religioso ser um no âmbito particular e religioso e outro no âmbito do Estado? E se o Estado for de uma posição contrária a sua posição de fé, não faria ele, o religioso, com que o Estado fosse de acordo com sua posição de fé?

Brian Flemming diria que não, o homem religioso será o mesmo nos dois âmbitos, isto é, religioso – no caso em particular, cristão (colocaria outra questão ainda, caso o homem não seja o mesmo, ele ainda é religioso? Isso, digamos, ao menos, dentro de sua instituição).  O documentário é de 2005, contudo, se observarmos uma das mais novas comunicações do papado em 2012 (21 de Dezembro), onde Bento XVI convoca os cristãos a uma luta contra o ‘homossexualismo’ (disfarçadamente na questão do direito do casamento gay, sob o prisma da ideia de família cristã, e sob o manto de não ser dogma de fé, haja vista a fraqueza da fé, de modo direto, como forma de poder no ocidente), para que os cristãos usem sua influência política em todos os âmbitos da sociedade, seja no direito, na educação, na política, para barrar esse ‘homossexualismo’, que é um dos pontos que a moral cristã condena, o que se diz que seu deus detesta e que se deve punir. Podemos perceber, então, que Brian Flemming parece estar no caminho certo na análise, afinal, o cristianismo já se expressa assim.

A religião, portanto, é, por sua natureza, política; um discurso político, e como políticos, a instituição religião pretende, através – como sofistas – da retórica, angariar as massas, e fazer com que o mundo seja o reino desse mito. Aqueles que pedem o silêncio dos que criticam o cristianismo são como os soldados que silenciam a oposição de um tirano celestial, isso significa a imunidade religiosa, disfarçada de respeito – e muitos, até não-cristãos, se demonstram como esses soldados, algumas vezes sem nem saber que são controlados.

Se nós, brasileiros, fossemos governados por um ditador assim, será mesmo, que em nossos íntimos, nós o daríamos tanto respeito assim? Se, quando tratamos dos nossos políticos, já fazemos tantas piadas, escárnios e criticamos profundamente, não faríamos o mesmo com um ditador assim? Onde está a diferença? Se, assim como nossos políticos, esse ditador nos vem com a promessa de sanar com as nossas misérias, além de uma promessa de amor (mesmo que torpe), não seria o mesmo no âmbito político?

Se nós não fôssemos capazes de governar a nós mesmos, esse, de certo, não seria o melhor dos governantes.


(Marcos Paulo Souza Caetano, Janeiro de 2013)

Fontes:


·         The God who wasn’t there” – Brian Flemming (http://www.youtube.com/watch?v=tQqt6ryiisw).


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Soneto para Aloízio Mercadante dançar Chico Buarque


"Soneto para Aloízio Mercadante dançar Chico Buarque"


Dança agora Aloízio Mercadante
E não são, certamente, os seus bigodes
Aquilo que te faz tão inconstante
Nós não sabemos o quanto ainda podes

"O governo não vai mais negociar"
Hoje corta fundos da educação
E enfia nos nossos fundos a canção
A gente samba o Chico, Lalalaiá


É copa pão e circo, tchê tchê rê rê
Esperando você, Quem te viu, Quem te vê
Antes lutava, antes educava


Esperávamos por você, Quem te viu, Quem te vê
Não reconhece, já não é mais o mesmo cabra
Nós não reconhecemos nem você nem o PT


(Por Marcos P. S. Caetano)

09h58 de 30 de Agosto de 2012, Fortaleza-CE.


Aloizio Mercadante Oliva (Santos, 13 de maio de 1954) é um economista e políticobrasileiro.
Foi um dos fundadores do PT em fevereiro de 1980 e o vice-presidente do partido entre 1991 e 1999. Foi senador pelo estado de São Paulo entre 2003 e 2010. De 2011 a 2012 foi Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, e, em 2012 tornou-se Ministro da Educação, devido à saída de Fernando Haddad para concorrer à Prefeitura de São Paulo.

Aloízio Mercadante Oliva, em 4 de julho de 1984, texto A Greve, O Feijão e O Sonho.

Palavra da vez:


reconhecer |ê| - Conjugar

v. tr.

1. Conhecer novamente (por certas particularidades) que uma pessoa ou coisa é a mesma que noutro tempo nos foi conhecida.

2. Achar que é o mesmo.
3. Descobrir.
4. Ficar convencido de, admitir, ter como verdadeiro.
5. Confessar.
6. Examinar, explorar.
7. Recompensar; agradecer.
8. Declarar legal, ter por legítimo.
9. [Marinha]  Aproximar-se da costa ou de uma paragem para a examinar.
v. pron.
10. Conhecer a própria imagem.
11. Declarar-se, confessar-se.
reconhecer um filhodeclarar-se pai ou mãe de alguém.


Referência Musical: "Quem te viu, Quem te vê" - Chico Buarque



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Uma temporada na Terra




"Uma temporada na Terra"


Na noite, num banho frio
Um córrego de sombras, a luz
Uma tosse, um ruído, um arrepio
Brumas de madrugada que nos conduz
A vida um carbono no século vinte e um
O dia inteiro a correria
e... Na noite, num banho frio
Há tristeza, som, melancolia
O silêncio sem coração não faz tum-tum
No meio do sorriso a desalegria
No meio da vida a rotina, o rito
É o sarcasmo do cancro espírito
O santo que desatina: o grito!
Sem deus nem diabo, o que se faria?
E eles? Os homens, o que farão?
Na noite, num banho frio
Dentro da cabeça todo desenvolvimento
é fraco-raso-inútil envolvimento
Esguio e longânime o des-envolvimento
Na pressão da felicidade: o brio;
Ser infeliz é liberdade
Quando a fumaça é o sol da vaidade

*

É o escarro e o cuspe o marasmo
O tempo nos ensinando o bê-a-bá ou bê-o-bô
Uma temporada no inferno é pouco, Rimbaud
Comparada à vida na terra, quase pasmo
Ele berra! Ninguém morre sorrindo, então enterra!
Como se o cérebro fosse mais que um inseto
e a força do pensamento a palavra que falta
para Clarice Lispector,
Morrer é mais que ser um nauta
no silêncio e no deserto
Como se a lua fosse amiga da estrela
como se pudesse ela sê-la
A distância é o único ponto certo.
Ninguém morre feliz e com equilíbrio,
Então enterra!
Isso é uma temporada na Terra!

*

(Por Marcos P. S. Caetano)
1° parte 16 de Outubro de 2008 às 3h36, e 2° 16 de Outubro de 2008 às 3h56


Imagem: Poeta Arthur Rimbaud aos 17 anos, retratado por [Étienne Carjat]], provavelmente em dezembro de 1871.


Palavra da Vez:

inferno |é| 
(latim infernum, -i

s. m.
1. [Mitologia]  Habitação das almas dos mortos.
2. [Religião]  Lugar destinado ao castigo eterno da alma dos pecadores, por oposição ao céu. (Geralmente com inicial maiúscula.)
3. Lugar dos demónios.
4. Conjunto dos demónios.
5. [Figurado]  Vida atribulada ou de sofrimento.
6. Coisa desagradável.
7. Desassossego, sofrimento.
8. Grande confusão ou gritaria. = INFERNEIRA
9. Refeitório de certas ordens religiosas (onde os frades comiam carne).
10. Reservatório para onde escorrem os resíduos do fabrico do azeite.
11. Vão em que gira a roda da azenha.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Rua Amazonas - No repeat em 2010



Série:

SINAL VERMELHO
-
PELAS RUAS DE UMA FORTALEZA
-
SOLIDÃO







RUA AMAZONAS

- No repeat em 2010.


O celular descarregou. Só teve carga suficiente para me acordar, era o único despertador. Por isso não o levei. Dei bom dia para o dia, essas coisas que se fazem pela manhã. Coloquei a calça e a blusa manga longa preta, e caminhei por setembro. Fui pra Pasárgada, Bandeira dominical.

Segui com New Year’s Day no repeat do meu MP4, e ainda lembrei que já havia MP não sei das quantas, precisava fazer um download do século vinte e um.

Não pensei sobre o sol, nem sobre as pessoas que passavam por ali, pensava apenas em minha Pasárgada. Quando entrei na floresta. Era a famosa Rua Amazonas. Ainda na descida, não me esqueço, das casas de famílias, das pessoas que viandavam por ali, da mãe grávida e com uma criança de colo que passou por mim. Ainda avistei o bar do pai de um amigo de infância de meu tio, e lá ele estava com muita gente e com seu bar. E foi debaixo de uma casa com uma árvore que botou seus galhos pra fora do muro só pra assistir:

Vinham os três de bicicleta e o MP4 cantava “I will begin again... I will begin again[1], era uma bela voz, como diria meu querido latim.

Vi mas não olhei. Os três tinham aquele jeitinho brasileiro. E estavam de bicicletas.
“Passa o celular” “não tenho nada” “Dá logo um tiro nele”, disse o outro. “Bóra, passa o celular” “tem medo de levar um tiro não?” E depois que percebeu que eu estava sem nada, pegou o MP4 que foi embora cantando “and gold is the reason for the wars we wage”.

And gold is the reason for the wars we wage.[2]

Tinham rostos jovens, os três. Não consegui falar nada, mas eu quis. Quis dizer “Pô, cara vai estudar! Pra quê fazer isso?” sim, eu quis dizer “é isso que vocês querem da vida? Atira! Vai, atira! Mata, e aí? Mata um cara hoje e leva um tiro amanhã. É preso, E aí? A mãe e o pai de vocês gostam disso? O que eles pensam sobre isso? Vão arruinar a vida de vocês aqui? Vai! Atira! E sai na porra dessa bicicleta! Atira! Eu estudo. O que vocês deveriam fazer! Não tô por aí roubando, mesmo sendo pobre. Vocês podiam usar essas bicicletas pra esporte e não pra isso. Atira!” sim, como eu quis dizer “E depois? Quando quiserem ter uma vida bacana? E aí? Vão dormir todos os dias com o peso de tanta morte na cabeça. E aí? Atira! O que as futuras namoradas de vocês vão pensar? É isso que vão ensinar pros seus filhos? Vai, atira!” eu não disse. Meu silêncio era o conformismo de todo um povo. E o povo da rua apenas olhou, e é óbvio que ficou comentando o resto do dia sobre o perigo que tá a rua, plenas dez horas da manhã.

Eles foram embora e não atiraram. Eu que atirei neles. O meu silêncio pode ter sido um gatilho apertado duma pistola qualquer que vai estourar os miolos de algum deles. Não disse tudo que queria... A única coisa que consegui dizer um deles escutou, os outros saíram rápido “cara, vai estudar”, e esse que escutou, abaixou a cabeça e seguiu, pude ver a tristeza como Bandeira de sua cara. Ele não iria pra Pasárgada, foi com os outros dois pela Rua Papi Júnior.

Eu segui meu caminho. Não tinha mais minhas músicas. O MP4 era uma placa de som na minha CPU, foi embora e não era onboard, mas há ainda som na minha cabeça, esse era onboard. E eu segui ouvindo a música que estava depois de New Year’s Day na lista, era Pride e não parava “In the name of Love... What more in the name of Love?”.

In the name of Love… What more in the name of love?[3]

  Ainda olhei pra trás, no momento em que virei para outra rua, e vi aqueles galhos-platéia. Lembrei que estava saindo da floresta, realmente uma selva. Já diria Zaratustra que é certo que sou uma selva e uma noite de escuras árvores... E eu não vi as sendas de rosas sob os ciprestes.


[1] Eu começarei de novo.
[2] E ouro é a razão para as guerras que nós combatemos.
[3] Em nome do amor... O que mais em nome do amor?


(Por Marcos P. S. Caetano)


Fortaleza, 2010.


Palavra da Vez:

"Pasárgada ou Pasárgadas[1] (em persa: پاسارگاد‎, transl. Pāsārgād; em grego: Πασαργάδες; em latimPasargadae) era uma cidade da antiga Pérsia, atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situado 87 quilômetros a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital da Pérsia Aqueménida, no tempo de Ciro II da Pérsia, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império: PersépolisEcbátanaSusa ou Sardes. É hoje um Patrimônio Mundial da Unesco. (...)"

Referência no célebre poema de Manuel Bandeira: "Vou-me embora pra Pasárgada".





U2 - New Year's Day






sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Daniel e o Lamento do Beijo Grego




"Daniel e o Lamento do Beijo Grego"

Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can´t you understand
Oh my little girl

- Είσαι καλά; Φαίνεται αποπροσανατολισμένος.

Aquilo lhe era estranho, não entendera. A fala daquele povo lhe fazia se sentir um bebê, ouvindo os pais pela primeira vez.

- Μήπως χρειάζεστε βοήθεια;

Em um passe de tédio e descontentamento, Daniel dormira em solo brasileiro e acordara em solo grego. As placas, os olhares, as roupas, os movimentos das pessoas. Era tudo um novo mundo. Alguns se aproximavam com seus olhos e bocas gentis, mas de fala ininteligível, não sabia o que era amigo ou não. Sentiu-se além de um bebê, um animal acuado, arisco. Aos poucos foi percebendo que ele era como todas as pessoas dali, de carne e osso. Bem mais carne e osso que as pessoas próximas dele no Brasil, pensara Daniel.

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

- Βραζιλίας; Do you speak english?

- It’s okay. Thanks.

Aqui elas falavam mais com ele, ou, ao menos, ele conseguia percebê-las melhor. Seus sons eram mais reais. Seus rostos eram mais reais. Seus significados eram mais reais. Mesmo assim, a Grécia lhe parecera muito mais psicodélica. E a realidade, não é psicodélica?

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

A sua não parecia. Era morna, poucos diálogos, pouco contato, muita distancia entre um arrastar de sapatos castanhos, ou um arrastar de olhares castanhos nas ruas. Castanho...
A moça que o abordou e falou alguma coisa, logo se resignou com o sorriso sem jeito de Daniel, mas, os cabelos dela eram castanhos.
Essa era a única coisa que ele conseguia lembrar-se da santa: os cabelos castanhos. Talvez apenas a sua fixação. O rosto já não se formara em sua mente, seus olhos, o nariz, nem os detalhes, menos ainda os movimentos. Tudo que ele amava nela, de tudo, só lhe restaram os desgostos castanheiros. A imagem se quebrara, apenas uma vaga lembrança castanha. Onde é que o amor acaba? Daniel não sabia, não entendia suas dúvidas castanheiras. Onde o amor acaba?! O amor acaba quando a gente começa a ver mais o lado negativo ao lado positivo da pessoa, pensara Daniel. Ele não via mais a beleza, não recordava mais dos pés pisando em memórias bonitas, era tudo um lodaçal, mas, ainda assim, um lodaçal castanho. Mesmo assim, será só isso? A imagem, esse bloco de significado que construímos uns dos outros, onde é que nós o sepultamos? Quando é que ele quebra? Será que conseguimos ter das pessoas mais que apenas vagas imagens na nossa cabeça? Para Daniel, o amor era como aquela Grécia, tudo muito psicodélico, principalmente quando acaba.
E quando acaba, Daniel ainda ouve:

- It is night now awaken all
corners of the lovers. And my soul is
also a corner of her lover.

Era um rapaz que lia um trecho de um livro para uma moça que estava com ele. Era do Zaratustra de Nietzsche, reconhecera Daniel. Prostrou-se naquela profunda reflexão, sabendo, que ele também era uma fonte de uma canção noturna.

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm

Enjoy the silence

Contudo, não houvera canção alguma para a recepção de Daniel, apenas o seu mais novo maior companheiro dos próximos tempos: o silêncio. Ou, talvez Daniel não tenha ouvido uma brasileira que escutava Enjoy the Silence em seu Ipod, ao som de Keane, bem ali, ao seu lado.

- Olá? – disse um senhor de roupas brancas, barba e cabelos longos, além  de cinzas. Mas, o que lhe chamava atenção eram as omoplatas, pois eram enormes. As omoplatas.

- Oi? – disse Daniel, assustado.

- É o amigo de Berilo, não? Daniel, é esse seu nome?

- Sim, não sabia que seria reconhecido logo... Qual seu nome?

- Deixemos essas perguntas para nossa próxima conversa. Vamos, ele lhe espera.

- Ele quem?

- O Banquete.

(Por Marcos P. S. Caetano)
Fortaleza, 16h49 de 03 de Agosto de 2012.



Confira aqui a Série Daniel Riva:



Pintura: Pablo Picasso, O Velho Guitarrista, de 1903.

Palavra da Vez:

silêncio 
(latim silentium, -ii
s. m.
1. Estado de quem se abstém ou pára de falar.
2. Cessação de ruído.
3. Interrupção de correspondência ou de comunicação.
4. Omissão de uma explicação.
5. Sossego, quietude, calma.
6. Segredo, sigilo.
7. Toque nos quartéis e conventos, depois do recolher.
interj.
8. Expressão usada para impedir de falar ou pedir que alguém se cale. = CALUDA



Referência Musical: Keane - Enjoy the Silence