A Ditadura em The God who wasn’t there, e nem aqui.
O documentário
feito por Brian Flemming, de 2005, propõe-nos outra visão sobre o fato do
cristianismo, diferentemente do sorriso cristão. O Deus que não estava lá nos
leva a questionar dogmas que não se costuma questionar, revisar a moralidade
que em nós é perpetuada pela religião e, o ponto mais sutil e culminante, como
na fala de Sam Harris, as implicações materiais do cristianismo no governo de
uma sociedade – este último o qual me deterei, haja vista que os outros pontos
são de demonstrar o caráter mitológico do cristianismo, e este o político.
Seria possível
um governo laico sem uma sociedade laica? Os cristãos logo elegem governantes
cristãos, e estes por serem moldados pela moral de fé cristã perpetuará nas
leis e nas decisões políticas o cristianismo. A educação baseada em incutir nos
jovens ‘a pressão cristã’, a formação da mente, a ‘inquestionabilidade’ de tal
ditadura celestial, enquanto o resto se pode questionar (isso como pretensão).
Mesmo a religião sendo tratada como algo particular; como esse particular não
se projetar para a esfera pública, como o cristianismo? Algo como a religião,
que rege fortemente o espírito do indivíduo e determina suas ações, assim como
toda ‘ideologia’, contudo, a religião como uma ‘ideologia’ com privilégios e
imunidades de fé, isso não é tão simples como um gosto musical para o âmbito
particular. Não é a nossa cultura que formula o nosso governo? Não somos nós
que formulamos o nosso governo? Por mais que o Estado queira se distanciar da
sociedade civil, as instituições da sociedade civil implicam nesse Estado,
mesmo num sistema como o nosso – de ilusão de distanciamento. Seria possível
para o homem religioso ser um no âmbito particular e religioso e outro no
âmbito do Estado? E se o Estado for de uma posição contrária a sua posição de
fé, não faria ele, o religioso, com que o Estado fosse de acordo com sua
posição de fé?
Brian Flemming
diria que não, o homem religioso será o mesmo nos dois âmbitos, isto é,
religioso – no caso em particular, cristão (colocaria outra questão ainda, caso
o homem não seja o mesmo, ele ainda é religioso? Isso, digamos, ao menos,
dentro de sua instituição). O
documentário é de 2005, contudo, se observarmos uma das mais novas comunicações
do papado em 2012 (21 de Dezembro), onde Bento XVI convoca os cristãos a uma
luta contra o ‘homossexualismo’ (disfarçadamente na questão do direito do
casamento gay, sob o prisma da ideia de família cristã, e sob o manto de não
ser dogma de fé, haja vista a fraqueza da fé, de modo direto, como forma de
poder no ocidente), para que os cristãos usem sua influência política em todos
os âmbitos da sociedade, seja no direito, na educação, na política, para barrar
esse ‘homossexualismo’, que é um dos pontos que a moral cristã condena, o que
se diz que seu deus detesta e que se deve punir. Podemos perceber, então, que
Brian Flemming parece estar no caminho certo na análise, afinal, o cristianismo
já se expressa assim.
A religião,
portanto, é, por sua natureza, política; um discurso político, e como políticos, a instituição religião pretende, através – como sofistas – da retórica,
angariar as massas, e fazer com que o mundo seja o reino desse mito. Aqueles
que pedem o silêncio dos que criticam o cristianismo são como os soldados que
silenciam a oposição de um tirano celestial, isso significa a imunidade
religiosa, disfarçada de respeito – e muitos, até não-cristãos, se demonstram
como esses soldados, algumas vezes sem nem saber que são controlados.
Se nós,
brasileiros, fossemos governados por um ditador assim, será mesmo, que em
nossos íntimos, nós o daríamos tanto respeito assim? Se, quando tratamos dos
nossos políticos, já fazemos tantas piadas, escárnios e criticamos
profundamente, não faríamos o mesmo com um ditador assim? Onde está a
diferença? Se, assim como nossos políticos, esse ditador nos vem com a promessa
de sanar com as nossas misérias, além de uma promessa de amor (mesmo que torpe),
não seria o mesmo no âmbito político?
Se nós não
fôssemos capazes de governar a nós mesmos, esse, de certo, não seria o melhor
dos governantes.
(Marcos Paulo Souza Caetano, Janeiro de 2013)
Fontes:
·
“Papa Bento XVI convoca católicos à ‘luta’contra o casamento gay” – G1, em 21 de Dezembro de 2012. (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/12/papa-bento-xvi-convoca-catolicos-a-luta-contra-o-casamento-gay.html)
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