Nosce te Ipsum

"Um quadro só vive para quem o olha" - Pablo Picasso

(Nosce te Ipsum)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Ditadura em The God who wasn't there, e nem aqui.



A Ditadura em The God who wasn’t there, e nem aqui.



O documentário feito por Brian Flemming, de 2005, propõe-nos outra visão sobre o fato do cristianismo, diferentemente do sorriso cristão. O Deus que não estava lá nos leva a questionar dogmas que não se costuma questionar, revisar a moralidade que em nós é perpetuada pela religião e, o ponto mais sutil e culminante, como na fala de Sam Harris, as implicações materiais do cristianismo no governo de uma sociedade – este último o qual me deterei, haja vista que os outros pontos são de demonstrar o caráter mitológico do cristianismo, e este o político.

Seria possível um governo laico sem uma sociedade laica? Os cristãos logo elegem governantes cristãos, e estes por serem moldados pela moral de fé cristã perpetuará nas leis e nas decisões políticas o cristianismo. A educação baseada em incutir nos jovens ‘a pressão cristã’, a formação da mente, a ‘inquestionabilidade’ de tal ditadura celestial, enquanto o resto se pode questionar (isso como pretensão). Mesmo a religião sendo tratada como algo particular; como esse particular não se projetar para a esfera pública, como o cristianismo? Algo como a religião, que rege fortemente o espírito do indivíduo e determina suas ações, assim como toda ‘ideologia’, contudo, a religião como uma ‘ideologia’ com privilégios e imunidades de fé, isso não é tão simples como um gosto musical para o âmbito particular. Não é a nossa cultura que formula o nosso governo? Não somos nós que formulamos o nosso governo? Por mais que o Estado queira se distanciar da sociedade civil, as instituições da sociedade civil implicam nesse Estado, mesmo num sistema como o nosso – de ilusão de distanciamento. Seria possível para o homem religioso ser um no âmbito particular e religioso e outro no âmbito do Estado? E se o Estado for de uma posição contrária a sua posição de fé, não faria ele, o religioso, com que o Estado fosse de acordo com sua posição de fé?

Brian Flemming diria que não, o homem religioso será o mesmo nos dois âmbitos, isto é, religioso – no caso em particular, cristão (colocaria outra questão ainda, caso o homem não seja o mesmo, ele ainda é religioso? Isso, digamos, ao menos, dentro de sua instituição).  O documentário é de 2005, contudo, se observarmos uma das mais novas comunicações do papado em 2012 (21 de Dezembro), onde Bento XVI convoca os cristãos a uma luta contra o ‘homossexualismo’ (disfarçadamente na questão do direito do casamento gay, sob o prisma da ideia de família cristã, e sob o manto de não ser dogma de fé, haja vista a fraqueza da fé, de modo direto, como forma de poder no ocidente), para que os cristãos usem sua influência política em todos os âmbitos da sociedade, seja no direito, na educação, na política, para barrar esse ‘homossexualismo’, que é um dos pontos que a moral cristã condena, o que se diz que seu deus detesta e que se deve punir. Podemos perceber, então, que Brian Flemming parece estar no caminho certo na análise, afinal, o cristianismo já se expressa assim.

A religião, portanto, é, por sua natureza, política; um discurso político, e como políticos, a instituição religião pretende, através – como sofistas – da retórica, angariar as massas, e fazer com que o mundo seja o reino desse mito. Aqueles que pedem o silêncio dos que criticam o cristianismo são como os soldados que silenciam a oposição de um tirano celestial, isso significa a imunidade religiosa, disfarçada de respeito – e muitos, até não-cristãos, se demonstram como esses soldados, algumas vezes sem nem saber que são controlados.

Se nós, brasileiros, fossemos governados por um ditador assim, será mesmo, que em nossos íntimos, nós o daríamos tanto respeito assim? Se, quando tratamos dos nossos políticos, já fazemos tantas piadas, escárnios e criticamos profundamente, não faríamos o mesmo com um ditador assim? Onde está a diferença? Se, assim como nossos políticos, esse ditador nos vem com a promessa de sanar com as nossas misérias, além de uma promessa de amor (mesmo que torpe), não seria o mesmo no âmbito político?

Se nós não fôssemos capazes de governar a nós mesmos, esse, de certo, não seria o melhor dos governantes.


(Marcos Paulo Souza Caetano, Janeiro de 2013)

Fontes:


·         The God who wasn’t there” – Brian Flemming (http://www.youtube.com/watch?v=tQqt6ryiisw).


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