"Daniel e o Lamento do Beijo Grego"
Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can´t you understand
Oh my little girl
- Είσαι καλά;
Φαίνεται αποπροσανατολισμένος.
Aquilo lhe era
estranho, não entendera. A fala daquele povo lhe fazia se sentir um bebê, ouvindo
os pais pela primeira vez.
- Μήπως
χρειάζεστε βοήθεια;
Em um passe de
tédio e descontentamento, Daniel dormira em solo brasileiro e acordara em solo
grego. As placas, os olhares, as roupas, os movimentos das pessoas. Era tudo um
novo mundo. Alguns se aproximavam com seus olhos e bocas gentis, mas de fala
ininteligível, não sabia o que era amigo ou não. Sentiu-se além de um bebê, um
animal acuado, arisco. Aos poucos foi percebendo que ele era como todas as
pessoas dali, de carne e osso. Bem mais carne e osso que as pessoas próximas
dele no Brasil, pensara Daniel.
All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm
- Βραζιλίας; Do you speak english?
- It’s okay. Thanks.
Aqui elas
falavam mais com ele, ou, ao menos, ele conseguia percebê-las melhor. Seus sons
eram mais reais. Seus rostos eram mais reais. Seus significados eram mais
reais. Mesmo assim, a Grécia lhe parecera muito mais psicodélica. E a
realidade, não é psicodélica?
Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are
meaningless
And
forgettable
A sua não
parecia. Era morna, poucos diálogos, pouco contato, muita distancia entre um
arrastar de sapatos castanhos, ou um arrastar de olhares castanhos nas ruas.
Castanho...
A moça que o
abordou e falou alguma coisa, logo se resignou com o sorriso sem jeito de
Daniel, mas, os cabelos dela eram castanhos.
Essa era a
única coisa que ele conseguia lembrar-se da santa: os cabelos castanhos. Talvez
apenas a sua fixação. O rosto já não se formara em sua mente, seus olhos, o
nariz, nem os detalhes, menos ainda os movimentos. Tudo que ele amava nela, de
tudo, só lhe restaram os desgostos castanheiros. A imagem se quebrara, apenas
uma vaga lembrança castanha. Onde é que o amor acaba? Daniel não sabia, não
entendia suas dúvidas castanheiras. Onde o amor acaba?! O amor acaba quando a
gente começa a ver mais o lado negativo ao lado positivo da pessoa, pensara
Daniel. Ele não via mais a beleza, não recordava mais dos pés pisando em memórias
bonitas, era tudo um lodaçal, mas, ainda assim, um lodaçal castanho. Mesmo
assim, será só isso? A imagem, esse bloco de significado que construímos uns
dos outros, onde é que nós o sepultamos? Quando é que ele quebra? Será que
conseguimos ter das pessoas mais que apenas vagas imagens na nossa cabeça? Para
Daniel, o amor era como aquela Grécia, tudo muito psicodélico, principalmente
quando acaba.
E quando
acaba, Daniel ainda ouve:
- It is night now awaken all
corners of the lovers. And my soul
is
also a corner of her lover.
Era um rapaz
que lia um trecho de um livro para uma moça que estava com ele. Era do
Zaratustra de Nietzsche, reconhecera Daniel. Prostrou-se naquela profunda
reflexão, sabendo, que ele também era uma fonte de uma canção noturna.
All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very unnecessary
They can only
do harm
Enjoy the
silence
Contudo, não
houvera canção alguma para a recepção de Daniel, apenas o seu mais novo maior
companheiro dos próximos tempos: o silêncio. Ou, talvez Daniel não tenha ouvido
uma brasileira que escutava Enjoy the Silence em seu Ipod, ao som de Keane, bem ali, ao seu
lado.
- Olá? – disse
um senhor de roupas brancas, barba e cabelos longos, além de cinzas. Mas, o que lhe
chamava atenção eram as omoplatas, pois eram enormes. As omoplatas.
- Oi? – disse Daniel,
assustado.
- É o amigo de
Berilo, não? Daniel, é esse seu nome?
- Sim, não
sabia que seria reconhecido logo... Qual seu nome?
- Deixemos
essas perguntas para nossa próxima conversa. Vamos, ele lhe espera.
- Ele quem?
- O Banquete.
(Por Marcos P.
S. Caetano)
Fortaleza,
16h49 de 03 de Agosto de 2012.
Confira aqui a Série Daniel Riva:
Pintura: Pablo Picasso, O Velho Guitarrista, de 1903.
Palavra da Vez:
silêncio
(latim silentium, -ii)
(latim silentium, -ii)
s. m.
1. Estado de quem se abstém ou pára de falar.
2. Cessação de ruído.
3. Interrupção de correspondência ou de comunicação.
4. Omissão de uma explicação.
5. Sossego, quietude, calma.
6. Segredo, sigilo.
7. Toque nos quartéis e conventos, depois do recolher.
8. Expressão usada para impedir de falar ou pedir que alguém se cale. = CALUDA
Referência Musical: Keane - Enjoy the Silence
Agora você deu uma outra dimensão ao que já vinha sendo muito bom. Achei fenomenal!
ResponderExcluirBoa noite , irmão virtual!
ResponderExcluirAgradeço pela visita em meu blog.
Com mais tempo, ando estudando muito, vou dar uma boa olhada no seu espaço que me parece ser muito rico contextualmente.
Amplexos!
Também gostei muito!
ResponderExcluirObrigada Marco pela visita seu blog é
Uma delicia de ler.
Um excelente fim de semana.
Fraco.
ResponderExcluirAdorei. Li num fôlego só. Vou clicar no link... Daniel. Abraço
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