
"Epístola Saudosa"
Ó queridos seres, que me abrigaram por tanto tempo!
Escrevo-vos por saber quão grande foi a intensidade de nossa aproximação. Sim! Desculpai-me se vos deixei tão vazios por muito tempo, mas sabeis quão povoados fiqueis por causa minha.
Ó queridos seres, que me tomaram com tanta angústia por tanto tempo.
Explico-vos que agora não mais irei esmagar corações vossos com meu pesado lamento. Falo-vos que não mais irei despregar vossos corpos do pensamento. Podeis apaziguados vos sentir posto que não mais apazigúe os meus doces cânticos em vossos ombros alentos.
Ó queridos seres, que me apalparam com tamanho carinho!
Agradeço-vos por terem me dado segundos de vida, mesmo sabendo que de vida eu é que vos preenchi. Mas que sem mim mais preenchidos ficareis. Posso estar já com nostalgia de minha pátria, vós, porém, dar-vos-ei a calma que é viver sem mim, mesmo sabendo que sem mim não vivereis.
Ó queridos seres, que me suspiraram todos os segundos sem vós mesmos.
Decreto-vos minhas últimas palavras. Essas sangradas e humildes palavras, para não ofuscar a alegria que sei que sentireis por viver sem mim. Profiro-vos estes meus fundos sentimentos, além disso, declaro-vos que estas minhas últimas palavras são palavras de puro altruísmo. Matar-me-ei somente por felicidades vossas.
Ó queridos seres, que nem mais se lembram de mim.
Aproveitai enquanto estou a morrer, cada último suspiro meu é um pingo de vida em vossas ânsias, sei-os que precisaríeis de mim novamente e não tardarei a chegar, mas aqui acabo minha vida, só para que vós amardes.
Ó queridos seres, que felizes sintam-se eternamente sem mim.
E que se beijem numa completude inigualável, sinto vossos íntimos em mim, mas morrerei de mim mesma por vós até poder matar-vos de mim e novamente em vós estar. As palavras desta que vos fala, esta escassa saudade, tornam-se brancas e imiscuídas com o papel já morrendo de mim mesma.
Adeus.
Desta amada e repudiada, Saudade.
(Por Marcos P. S. Caetano)
(Texto Publicado na Edição NEM SAUDADE do Grupo Eufonia de Literatura, vide link)
Palavra da Vez:
(latim solitas, -atis, solidão)
Saudade...palavrinha extranha quando ela é
ResponderExcluir(viceral)..(Saudade)De Algo Q-nunka se teve..
.
ué..Mas saudade nao eh soh do Q-ja tivemos?
Eu sinto falta de uma coisa que jamais experimentei, se isso não for saudade é a loucura em sua face mais pura.
eh, isso realmente me faz pensar!
Saudade,só em nossa língua esta palavra existe,o português e sua eterna saudade;este texto é esplendoroso,a saudade de reler-lo,sempre saudade é o que nos faz senti-nos de verdade...
ResponderExcluirUm Abraço!
...as vezes penso estar lendo Fernando Pessoa...
ResponderExcluir"Agradeço-vos por terem me dado segundos de vida, mesmo sabendo que de vida eu é que vos preenchi."
Sensacional!
Um abraço!
"...as vezes penso estar lendo Fernando Pessoa..."
ResponderExcluirNossa! Talvez esse tenha sido o maior elogio que eu já recebi até hoje!
Logo o fingidor, o poeta que mais admiro! Se eu pudesse moldar o tempo, o ajustaria para tomar um café e ter uma boa conversa com ele.
Extremamente lisongeado, e com o ego largamente afagado, rs. Espero continuar sempre nesse nível :)
Muito Obrigado Gabi (olha só, se fazendo de íntimo, rs), um outro abraço!