Nosce te Ipsum

"Um quadro só vive para quem o olha" - Pablo Picasso

(Nosce te Ipsum)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"Somos escravos da Ordem e do Progresso"


Muito do discurso difere das atitudes. A realidade do trabalhador brasileiro é um exemplo: uma escravidão velada. Antes a chicotada doía na carne, hoje dói na alma em dizer ao filho que não tem o que comer. Por vezes dói em não dizer, pois nem tempo se tem para o filho.

Enquanto países como a Suíça, do filósofo Alain de Botton, tem cidadãos bem alimentados, educados e incluídos socialmente, dando razão para que ele pense o que pensa sobre o futuro do trabalho em seu livro Os prazeres e as dores do trabalho, o Brasil ainda não passa por essa realidade. E aplicar, apenas, essa visão como visão brasileira é excluir os brasileiros do Brasil e viver, como Platão, no mundo das idéias.

As condições de trabalho no Brasil ainda misturam ao futuro um passado recente de escravidão, como determinadas atividades agropecuárias de fazendeiros em suas empregabilidades, no mínimo, suspeitas. E até mesmo as grandes empresas da capital que consomem de seus empregados o tempo, e por conseqüência a alma, deixando-os em níveis desumanos, pois são considerados estatísticas.

Esse cenário é filho da situação precária do ensino público, que vela uma escravidão intelectual do povo para com o governo. Um dos maiores exemplos é a falta do ensino de filosofia, sociologia e direito desde o ensino básico, mesmo que uma noção. É preferível investir em técnicos a teóricos, é preferível ensinar o que pensar a como pensar. O povo brasileiro não queremos ser máquinas, mas cidadãos. É a reflexão que constrói uma nação e melhora a vida em todos os sentidos.

Cobrar um pensamento crítico, analítico, de alunos de escolas públicas que não têm o mínimo de preparo, ou investimento em leitura, como é feito no ENEM é dar chicotadas no rebanho e gritar: Ordem e Progresso.


Marcos P. S. Caetano (7 de Novembro de 2010)

Err... Espero que eu continue com paciência para postar por aqui...

4 comentários:

  1. O Brasil ao contrário de outros países sofre por ter um ensino público estagnado. Fui aluna de escola publica e sei o quanto a precariedade é de tal forma absurda que sofri por causa do esquecimento que foi dado a mim e àqueles que juntamente comigo passaram por um ensino público no Brasil.

    Também acho que o ensino de filosofia, sociologia e direito deveriam fazer parte do curriculo de ensino publico... as duas primeiras até que tem escolas que sao agraciadas com tais. Mas ainda com aquela restrição de conteudo. Tipo, em sociologia, so me lembro do professor a nos ensinar como fazer um trabalho cientifico, modos e caracteristicas, somente isso! Acho que sociologia iria além disso,bem alem.

    Filosofia, essa que deveria ser ensinada com muita magnitude, se resumia a um conteudo demasiadamente sem logica e passado pelo professor de forma chata... desculpe-me, mas o professor nao tinha muita motivaçao para ensina-la.

    Direito, eita que essa dai é importante... Mas será que e do interesse dos nossos governantes que os alunos de escola publica saibam seus direitos... assim como seus deveres...


    O Brasil ainda tem que mudar muito, ainda muitas aguas vao rolar... Eles - gorvenantes- sabem que as mudanças ocorrem atraves de uma boa educação publica e de qualidade. Mas será que eles querem isso...

    Obs. está faltando alguns acentos gráficos e pontuações, justamente pq o meu computador resolveu se revoltar, olha ai!
    Bate os olhos nessa tua postagem e deu vontade de comentar.

    Muito boa!

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  2. Marília,

    Isso mesmo, até tem umas escolas que são agraciadas, no entanto, só o são pelo ensino médio, a formação poderia ser bem antes. Desde o início da puberdade, quiçá infância. O pensamento deve ser arraigado desde cedo.

    A sociologia é bem mais além mesmo, vejo o mesmo que você. A filosofia então, nem se fala...

    E é justamente isso que nos transfigura o "Ordem e Progresso", será que nossos governantes querem? A filosofia ensinada é história da filosofia, e não o pensamento em si. É ensinado, como dito acima, o que pensar e não como pensar... Infelizmente. O professor não se sentir motivado para lecionar é também um fruto dessa cadeia de ensino, pois ele é formado por ela.

    Sobre o direito, seu comentário foi tudo mesmo!

    Espero que todas tenham isso de bater essa sua vontade ^^

    Obrigado pela sua passagem :), abraço!

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  3. Ler este tipo de texto me desassossega mais do que eu queria.

    Uma realidade tão cruel diante de tantos braços cruzados, com dinheiro no bolso e um pensamento fútil. E ao mesmo tempo, algumas oportunidades são jogadas fora por imaturidade intelectual e por um povo tão corrupto.

    Mas acredito na educação, assim como acredito no amor, Caetano.

    E acredito neste seu ponto de vista. Vivo esta realidade todos os dias.

    Um abraço!

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